Acabei de ler no site do Jornal Público uma notícia que me deixou no mínimo, intrigada.
O cabeçalho da notícia diz "VIH - Os testes caseiros estão a chegar", abri o link e o que a notícia diz é que a FDA (Food and Drugs Administration, entidade Norte Americana equivalente à nossa INFARMED) está ponderar pôr os testes, que, já se encontram disponíveis em centros de aconselhamento e algumas unidades ditas de rastreio, nas farmácias com venda livre ao público, tal e qual os testes de gravidez - já estou a imaginar que o próximo cliché de chick-flick é ir comprar um destes testes à department store da esquina -.
Fiquei intrigada porquê, perguntam vocês!? Teoricamente a ideia é louvável, visto haver muita gente que não pede ao seu médico um teste de despiste de DST por pura vergonha... Assim era muito mais fácil saber. Teoricamente, de louvar sim. Na prática?! Nem por isso...
Passo então a explicar: para começar estes testes que já são utilizados em várias unidades de rastreio não são assim muito fiáveis. O principio destes testes (chamados testes Point Of Care - POC -) é a procura de antigénios (partículas virais) e/ou anticorpos (proteínas produzidas pelos linfócitos - tipo de glóbulos brancos - que vão combater e tentar eliminar as partículas virais) em pequenas quantidades de sangue ou de saliva. Ora, a procura destas partículas vai depender de muitos factores que poderão impedir um correcto diagnóstico. Em primeiro, o vírus tem formas de replicação muito diferentes de pessoa para pessoa, o sistema imunológico de cada um responde também de maneira diferente. Em segundo, existe um período "janela" em que ainda não se detecta antigénios nem anticorpos, que pode durar até 6 meses. Logo, uma pessoa que foi infectada o mês passado e hoje resolve fazer um destes testes tem uma grande probabilidade de ter um teste negativo, quando na realidade é HIV positivo!
Nos laboratórios autorizados a fazer estes testes, em amostras de sangue colhidas através da famosa picadinha no braço, a determinação do estado HIV de uma pessoa tem os mesmos princípios que os testes POC, mas tem uma sensibilidade muito maior! Qualquer resultado HIV+ é repetido até não haver dúvidas (porque são resultados quantitativos e não qualitativos) e muitas vezes as amostras são testadas com o único método que é 100% seguro, a procura de material genético viral.
O artigo cita também um estudo que está a ser conduzido em Nova Iorque por um psicólogo da Universidade de Columbia, Carballo-Diéguez, que pretende saber, numa comunidade de homens homossexuais, até que ponto, a utilização destes testes preveniria sexo com alguém HIV+. Visto este tipo de comunidade que pratica MSM (men who have sex with men) evitar o uso do preservativo, antes de qualquer tipo de contacto sexual fariam um teste deste género assegurando a sua seronegatividade e assegurando "sexo seguro"! Um estudo deste género está a começar numa comunidade heterossexual e os resultados apontam para o mesmo tipo de comportamento.
Aqui começa então a minha indignação. E a sério! Então ninguém se lembra de todas as outras DST?! Hepatite B e C, Sífilis, Gonorreia... A ideia do uso do preservativo -para além de evitar uma possível gravidez- não é evitar as DST? Não só o HIV, mas todas as outras! Venham-me dizer que também se arranja testes para isso?! Ah...esperem... já sei porquê... Porque o HIV é a única DST para a qual não há tratamento conhecido... será?
Há, então, uma palavra para isto: IRRESPONSABILIDADE!
E sinceramente, imaginem isto: boy meets boy, boy meets girl, whatever. A coisa aquece e resolvem ter sexo. Mas, antes disso, no meio de tanto calor, vão esfregar a mucosa bucal um do outro ou picar um dedinho para decidirem se usam ou não preservativo!
É caso para dizer, preliminares para quê?!
p.s. Sem falar no lucro estúpido (mais um) que as farmacêuticas iriam ter com a massificação destes testes!
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