quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Turmoil

« Rarely have I craved so much for something or someone and show rejection towards “it” or “him”. I always told myself if I had to be keen on someone, I would be from the first moment I would lay eyes on him. It did not really happen that way but it built itself up as the calmest turmoil of my life, as a drug I would need every day, in the weirdest manner and never was it so well corresponded. We have a sort of inner schedule that became vital, that we secretly follow and gives us confidence and peace, even if the environment is not the best for us. »  Elite nas cartas à Sofia

Às vezes parece que certas coisas são escritas só para nós. Parece que foram escritas para nos fazer parar para pensar naquela coisa que andava ali entre o sentimento e o pensamento e que ou por falta de tempo, de calma ou porque simplesmente falta de vontade teimava em fazer-se ouvir.

Turmoil “the act of disturbing something or someone; setting something in motion

Há momentos assim. Em que a nossa paz é perturbada, em que o nosso mundo dá uma volta quando se começa a perceber que a coisa se transformou mesmo em algo cor de laranja, grande e cheio de força. Força de ser e de estar. Grande porque nos enche o dia, cor de laranja porque é um bocado impossível de passar ao lado.

A Elite, que vive em Paris e que escreveu as palavras que cito acima, percebeu que não são aquelas coisas assolapadas e que parecem tão certas que o são. Percebeu que como tudo na vida, são coisas que se constroem, que demoram o seu tempo e que por vezes no papel não parecem cor de laranja mas assim um cinzento desinteressante que começa a pouco e pouco a tomar contornos coloridos.
Obrigada Elite por hoje me teres iluminado mais um bocadinho – o dia e a tal coisa.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Das amizades...

Há coisas que me transcendem.

E vão transcender até ao final da vida parece-me. E essas coisas chamam-se amizades. Como é que alguém se torna amigo de alguém e como é essa amizade se mantém.
Transcendem-me porque não há grande lógica associada à coisa. Pelo menos para mim. Se alguma alma iluminada souber explicar esta alquimia por favor chegue-se à frente porque há dias em que me pergunto – mas porque raio é que sou amiga desta pessoa?

É que a amizade não pode ser explicada por paixão, tesão, bom sexo, necessidade de um corpo e todas aquelas coisas que poderão suportar uma relação…

Ao início a amizade é partilha de qualquer coisa – gostos e preferências, experiências, uma secretária, um emprego, um chefe prepotente qualquer coisa que faça essas almas começarem a entender-se. Não necessariamente a partilha de tais factores leva a uma amizade, mas é a meu ver, o início de qualquer coisa. Depois vem aquilo que a começa a cimentar – que é o interesse genuíno por essa pessoa, o querer saber de, o querer combinar coisas com, porque gostamos da companhia, porque gostamos de ir aos mesmos sitose e porque por mais inusitada que possa parecer começa-se a desenhar aquilo a que chamamos amizade…

Há pessoas que até parecem ser dessas – friend material – e às quais começamos a tomar como tal, amigos. Mais ou menos parecidas, mais ou menos dos copos, mais ou menos daqueles que sabem olhar para nós e perceber que precisamos é de um abraço. Há que ter amigos todo o terreno é certo – mas se tivermos um assim e outro assado também é bom – já que os TT normalmente são-no para várias pessoas e às vezes não conseguem chegar a todo o lado…

Eu tenho amigos que sei que não vou levar para uma noite de copos, sei que tenho amigos que não vão conseguir ir comigo ao cinema porque não gramam os mesmos filmes que eu, sei que tenho amigos que não vou levar ao sushi e sei que tenho amigos que por mais que queria não vão ouvir a mesma música que eu, ter opiniões semelhantes, nem sequer fazer um esforço para perceber o meu lado. Mas não é por isso que deixam de ser meus amigos. Não é por isso que deixo de ser amiga, não é por isso que não me vou interessar pela vida deles, não é por isso que não estou aqui quando precisam e que lhes quero bem 24/7. E isto é uma característica que me tem vindo a afastar de certas pessoas que não conseguem perceber exactamente que não é por não gostar de ir comprar roupa à Bershka e preferir a Zara que me situo mais abaixo ou mais acima na escala dos amigos. É só porque as pessoas são diferentes!

Toda a gente tem decepções e surpresas neste campo ao longo da vida, mas o que não entendo é como é que alguém que se toma por amigo, daqueles de sempre, daqueles pelos quais fazemos às vezes coisas que não devíamos, deixam de o ser de um momento para o outro. Como é que essas pessoas não ficam felizes com a nossa felicidade, como é que não percebem que precisamos deles, como é que por mais disparatadas que possam achar certas alturas da nossa vida, não estão lá só porque sim, só porque diz que são amigos…

Como disse, toda a gente tem decepções neste campo ao longo da vida, e ao que parece eu estou a ter a minha… Ou então fui mesmo tão cega que aquilo que tomei por amizade não foi mais que um capricho de alguém que diz querer ter amigos mas que não sabe como… 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Shake it up!

Há uma altura na vida de cada pessoa que um rasgo de futuro se coloca no seu caminho. Qual portal para uma outra dimensão, essa fresta permite-nos ter uma amostra daquilo para o qual caminhamos.
Qual ponto de viragem, uma espécie aragem enche-nos de qualquer coisa – esperança, alegria, certeza, paixão, força, dúvida, medo…

Sentimentos que nos impelem a fazer algo que andamos a adiar. A mudar de trabalho, a tentar uma promoção, a aceitar aquele convite, a acabar uma relação ou a começar uma, a mudar de look ou mandar qualquer coisa fora, a termos aquela conversa que andamos a adiar ou a ter a certeza daquela decisão que tememos tomar.

Estes rasgos muitas vezes acabam por passar ao lado da maioria de nós que corre na vida. Daqueles que por mais que sintam que algo está mal, teimam em não se sentar, respirar e perceber que o Universo lhes está a tentar dizer alguma coisa. E mesmo quando percebem, quais seres agarrados ao que conhecemos que somos, teimamos em ainda assim arranjar grilhões mentais, daqueles que só nós conseguimos colocar para nos impedirem de atirar as folhas ao ar e arriscar dar aquele passo.  


Ultimamente à minha volta vejo Ulisses que decidiram seguir o coelho da Alice e que mesmo que se venham a dar mal, ao menos não se impediram de tentar. 
Porque lá no fundo bem fundo, só se vive uma vez! 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Dos compromissos...

"Não tens apenas uma cidade. Não tens apenas uma rua. Mas algum dia terás de escolher o sítio onde ficar. Não te falo de uma casa ou de um bairro ou e uma grande metrópole multi-étnica. Falo-te de uma mulher com sinais no peito (o teu verdadeiro guia de viagem) e força de deusa grega (a heroína da tua história), uma mulher que, por mais cidades que conheças, será sempre o teu verdadeiro lugar de partida e de chegada. Não interessa qual a latitude ou a longitude onde te encontras no planeta. Não interessa se as árvores da tua rua são coqueiros, acácias ou jacarandás. Não interessa o número de carimbos no passaporte. Desde que estejas com essa mulher, qualquer cidade será a vossa cidade."

O problema é que é tão mais fácil gostar de alguém na cidade, na rua, na rotina em que se vive do que gostar de alguém nesta volatilidade de espaços, de pessoas, de mares e de ares em que habitamos.

 Mas há seres assim, mesmo do outro lado do mundo conseguem fazer-nos sentir o mesmo que quando partilhamos um croissant lambuzado em olhares gulosos e mãos dadas ali no café da rua.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

No que é que dá 7 mulheres enfiadas num espaço de 4 m2?

Uma vontade tremenda de fugir deste galinheiro chamado copa de um escritório!!!

sábado, 28 de maio de 2011

é mesmo bonita sim...

E o coração não é tão simples assim não...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Mais tarde ou mais cedo eu tinha que meter o bedelho...

Mesmo com algo que não fui eu a escrever.
Mas eis que este senhor aparece e coloca em palavras aquilo que por mim foi dito (vá mais ou menos, pensado foi!) a n pessoas. A pessoas que dizem à rasca, a pessoas que já estiveram à rasca, a pessoas que não sabem o que estar à rasca.



Mia Couto - Geração à Rasca - A Nossa Culpa

"Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!


Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa
abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.


Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.


A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.


Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.


Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.


Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.


Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.


Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.


Foi então que os pais ficaram à rasca.


Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.


Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.


São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.


São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!


A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.


Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.


Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas
competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.


Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.


Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.


Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.


Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.


Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.


Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).


Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.


E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!


Novos e velhos, todos estamos à rasca.


Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.


Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?